terça-feira, 10 de maio de 2011

Comentário

Sobre o filme francês: Des hommes et des dieux (homens e deuses).
Achei pena ter lido a crítica da revista Veja sobre esse filme porque ela me predispôs a ver um filme chato e com cenas de violência (do tipo ação) e não é nada disso.
O filme é calmo mas nem se pode dizer que é lento. Também não é hermético, au contraire, é bastante claro nos diálogos e narrações. O filme é muito bonito, a fotografia é belíssima o tempo todo. As cenas de violência são mais insinuadas do que mostradas, são pontuais e não causam nervosismo ou repulsa.
É importante saber que se baseia em fatos reais ocorridos na Argélia em 1996, portanto relativamente recentes e que os dois aspectos mais relevantes são o ecumenismo, ou seja, a relação de atendimento dos monges à população local islâmica, levando socorro às populações carentes do mundo sem tentar impor a crença católica e a falta de opção de inúmeras populações do mundo diante da violência em suas terras natais devido às lutas pelo poder; não podem sair (A não ser por perversos esforços de imigração para o primeiro mundo) e nem podem ficar ( Em condições mínimamente aceitáveis de sobrevivência, no meio da violência, sem hipótese de progresso em suas vidas.)
Importante também saber que a ordem trapista cisterciense tem um quarto voto, além dos votos de castidade, pobreza e obediência. É o voto de permanência, que significa que eles não podem sair dos mosteiros em que vivem até a morte a não ser por ordem especial . No caso do filme isso se torna relevante porque eles decidem ficar, não só pelo voto que fizeram mas porque consideram a população local indefesa sem a presença deles. Portanto sair não seria uma solução fácil, o que esvaziaria ou tornaria artificial a proposta primeira do filme, ou seja, porque simplesmente não foram embora?
Tendo posse dessas informações o conteúdo do filme - deixando de lado as considerações políticas e econômicas quanto ao horror da violência, da miséria, pobreza e injustiça social em que boa parte da humanidade tem que sobreviver- se volta para o aspecto da alta espiritualidade que permeia o filme do começo ao fim, mostrando ao público, o que é, em pleno final do séc XX, optar por uma vida quase que anacrônica, nos tempos iniciais da internet que tanto mudou a face do mundo, uma vida vivida em castidade, pobreza e comunitária cumprindo tarefas simples necessárias à sobrevivência, lidando com o alto poder de vibração energética que possui a oração constante e ao mesmo tempo servindo mundanamente ao próximo pelas tarefas de caridade.
Curioso o aspecto exotérico de serem oito os monges, já que o número 8 deitado é o simbolo do infinito. De se observar também que as orações cantadas e não simplesmente faladas geram uma energia mais poderosa a serviço do Bem. Outra referência simbólica que não sei se percebi corretamente, foi quando o monge médico, após um desabafo em que faz um resumo de sua situação, passa a mão por uma pintura realista e leva seu dedo até a chaga de Jesus, onde Ele levou uma flechada. A mesma chaga em que o apóstolo Tomé quis pôr o dedo para acreditar que Jesus tinha realmente ressucitado, ou seja, o monge não estava “acreditando” naquilo que eles estavam passando naquele momento de 1996. Outros simbolismos esotéricos próprios da ICAR, de conhecimento dos monges e dos teólogos eu não saberia explicar, como o fato de rezarem, por vezes,se posicionando em forma de ferradura ou “u” mas acredito que nada seja gratuito nos rituais.
Adorei o filme, por ser calmo, belo, espiritualmente elevado, de fácil entendimento, que conta uma história com muita clareza e sobretudo baseado em fatos reais. Muito bom, nada chato.

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