terça-feira, 17 de maio de 2011

PÃO DE AÇUCAR
Maio, 2011

Resolvi conhecer o Pão de Açucar. Afinal moro no Rio de Janeiro desde que nasci, há vinte e três anos e nunca fui lá. Parece brincadeira! Rafael, enfim foi ao Pão de Açucar!
Hoje, na hora do almoço, no meio do expediente de trabalho, eu fui. Ainda bem que sobrou um pouco dessa miséria de salário que eu ganho mas quem mandou querer ser professor, bem que me avisaram! Meu pai queria que eu fôsse médico mas só de ver sangue fico querendo desmaiar. Minha mãe sempre disse que eu teria que fazer algo que gostasse muito porque trabalhar no que não se gosta é a morte em vida. Na verdade, como acho que tenho alma de artista, queria ser artista plástico. Mas, nas artes, um em mil vence. E se eu aprendesse todas as técnicas e depois os críticos dissessem que eu não era bom? Não quis arriscar. Resolvi estudar letras, português-alemão. Dá pra viver dando aulas e fazendo traduções. Muita gente agora quer aprender é chinês mas , parodiando um amigo, “A vida é muito curta pra aprender a falar chinês”. A lingua alemã é difícil mas tem quem queira aprendê-la e não tem tantos professores como os de inglês e francês. Além disso é a lingua de muitos dos maiores filósofos da humanidade. Fico próximo do meu campo de interesses culturais. Não dá tempo é de pintar nenhum quadro. Aliás não dá tempo nem de pregar um prego pra pendurar um possível quadro na parede. Tenho que estar sempre trabalhando e me aperfeiçoando para valorizar meu diploma.
Na fila pra comprar meu ingresso nos bondinhos tive um pouco de pena da Isa. Isadora, minha namorada. Não quis trazê-la. Queria ficar só. Tem experiências que eu quero passar sòzinho. Não dá pra ter insights preocupado com a Isa, que vai me perguntar as horas, dizer que está com fome, localizar a Lagoa Rodrigo de Freitas... Me deixa. Eu quero sentir tudo sòzinho, ter meus insights, foi o que pensei.
Já no primeiro bondinho, aquelas duas comadres batendo boca porque as duas queriam segurar na mesma pilastra, já que o bondinho balança um pouco. Pelo-o-amor-de-Deus, discutir com estranhos por uma bobagem, num passeio... Foco. Deixa elas pra lá que eu quero curtir a minha experiência.
Ir subindo. Que coisa isso de ir subindo. Sempre achei meio bobagem as pessoas subirem num lugar, igual a cabrito, pra apreciar a paisagem. Pensei que a experiência era meio...vazia. Mas não. Subir é incrível, o ponto de vista vai ampliando. Ter uma visão aérea das coisas é bem bom, amplia a visão, fornece um panorama mais inteiro sobre tudo. Claro que o google map e os jogos me dão isso mas ao vivo é outra coisa. Ainda não tive grana pra viajar de avião. Medo, eu? Da altitude ou do balanço, ou será que essa coisa vai cair? Não, nenhum.
Do morro da Urca olhei tudo. O bairro da Urca, todo quadradinho, certinho, alí. Um bairro inventado, um aterro. Será que a cabeça das pessoas de lá também é quadradinha, certinha, militar como o Forte de São João? Claro que não. Tem todo o tipo de gente em todos os lugares: os certinhos e os desencanados, os bom caráter e os perversos, os honestos e os canalhas. Não esquecer que os canalhas também envelhecem. Mas não vou me ligar no lado difícil da vida. Vou pensar em quantas pessoas comuns, normais, sadias, moram alí e alí são felizes no seu cotidiano. Com certeza é bairro pra quem quer sossego. Prefiro o caos da Tijuca dos dias de hoje, estou acostumado, pra mim não dava. Mas a Urca é bem bonitinha vista daqui.
E fui ver o outro lado. O mar. A amplidão. Mundo, vasto mundo. A água do oceano Atlântico que está aqui em baixo é a mesma que está la nos Estados Unidos e também lá na Europa. Não é a mesma molécula mas é a mesma água, não é? Muito abrangente. Acho que o bairro da Urca é igual a um cachorro, leal, fiel, sempre igual. E o mar é igual a um gato, gato não tem limite, se soltar na janela ele vai. Eu penso o que eu quiser. Muito bom esse ar puro.
Achei tudo limpinho e bem cuidado.
Subi mais. Outro bondinho, para o morro Pão de Açucar. Depois vejo no google a história, porque se chama pão de açucar mas o formato já dá a entender. Doce porquê? Sim, é doce. O ar aqui em cima é doce. Tem brisa não tem vento, muito bom. Nem vem com essa de que brisa é coisa de mulher e vento é coisa de macho. Eu sou macho e gosto de brisa.
Valeu. Senti. Curti. Agora entendi porque as pessoas curtem. A sensação é agradável mesmo. Não sou chegado a esportes radicais. Pra muita gente isso aqui já é uma experiência radical. Minha tia não viria aqui de jeito nenhum! Tenho que trazer a Isa aqui.
Desci. De volta pra realidade. Sou um outro Rafael? Já não mais o mesmo que subiu? Acho que sim. Dei mais um passo, fui mais adiante nessa experiência de ir desembrulhando a vida. Recomendo.

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