quinta-feira, 4 de março de 2010

UNHA ENCRAVADA

Queria sorrir mas não podia.

Tamanho era seu desconforto que precisou cruzar as pernas e esboçar um sorriso amarelo para que os presentes não percebecem o que lhe ia na alma.

Presentes na sala os oito integrantes da família, confraternizavam e discutiam a novidade.

Marilia estava grávida. Após cinco anos de tentativas sua mulher, enfim, engravidara deixando para trás os termometros, as tabelinhas, os cálculos, as idas ao médico, exames sem fim, tentativas de inseminação artificial, o diabo a que tivera que se submeter durante todos esses anos em que fora obrigado a copular na hora certa, nem antes, nem depois.

Diversas vezes pensou em abandonar Marilia mas o pavor que tinha do sogro, sujeito violento, militar empedernido e os arrepios que lhe causavam as intrigas da sogra, faziam-no desistir.

Acordar suando no meio da noite era corriqueiro para ele. Marilia nem percebia.

Ia até a cozinha, bebia água, e se recordava das machadadas que recebia do sogro ou das facadas da sogra, já que estes sonhos se revesavam e se repetiam reiteradamente.

Sonhos interrompidos pelo susto de acordar todo suado e ir até a cosinha para beber água e se recordar.

Tudo se repetia e se repetia. Os apelos de Marilia para a cópula obrigatória, os sonhos com os sogros. Cinco anos que pareciam não ter fim.

Só uma coisa se repetia e lhe dava prazer: O futebol aos domingos com os amigos. Isso era sagrado.

Um dia, sentado no banco dos reservas, tirou a meia e ficou observando uma unha encravada. Um par de cochas grossas ocuparam, em camara lenta, o seu campo visual. Foi, então, que teve a idéia. Aquelas cochas pertenciam ao Thiago, sujeito boa pinta, galinha até debaixo d’água, parecido com ele, até. Não no comportamento mas no fato de ser boa pinta, alto, cabelos castanhos e um bom sujeito, afinal.

Fez a proposta indecente. Thiago custou a acreditar e mais ainda em aceitar. Mas ao final se rendeu já que Marilia era gostosa, seu amigo estava cansado de transar com hora marcada e...um filho para o casal seria uma boa ação.

O duro é que Marilia teria que ser cantada, seduzida. Ela jamais aceitaria uma proposta fria de seu próprio marido de ter um filho com ele para que resolvessem logo o problema.

E a coisa aconteceu. Para seu desgosto Thiago não tivera muita dificuldade para levar sua mulher para a cama.

No inicio lhe pareceu chocante mas, afinal, tinha sido sua a idéia e agora, com a família ali reunida só lhe restava comemorar.

Os sonhos tinham se alterado. Ultimamente acordava suado e assustado e ia para a cozinha beber água e se recordar da visão de Marilia, sorrindo e lhe dando machadadas ou então era Thiago que lhe sorria e esfaqueava, sonhos revesados e reiterados. Suportaria. O que fazer?

Ao ser confirmada a gravidez de Marilia diante dos familiares sorridentes, com copos estendidos na mão, sugerindo nomes, perguntando por Thiago, o futuro padrinho ausente, ele teve vontade de tirar a meia do pé e observar sua unha, quando o sogro lhe dirigiu a pergunta:

-Que nome vai ter o menino, afinal? Responda!

-UNHA ENCRAVADA, gritou, para espanto de todos.

-UNHA ENCRAVADA DE MELLO E DANTAS, repetiu, completando com o sobrenome enquanto se levantava, dirigindo-se para a porta e para seu carro, que o levaria diretamente a um cabaret com muitas bebidas e mulheres fáceis e uma noitada de transas sem hora pra começar nem pra terminar.

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